Tratamento de Efluentes: fundamentais no setor de tratamento de superfície
Além de uma análise técnica bastante interessante sobre a importância do tratamento de efluentes no nosso setor, feito por um competente profissional da Cetesb, esta matéria especial ainda inclui alguns cases que envolvem o fornecimento de equipamentos e sistemas para empresas da área de tratamento de superfície.
O setor de tratamento de superfícies, por lidar com produtos altamente poluentes, tem um sério compromisso com a preservação do meio ambiente, e existem cuidados especiais que devem ser tomados na destinação dos resíduos gerados nas operações – daí a importância do correto tratamento de efluentes, tema desta matéria especial da revista Tratamento de Superfície. O engenheiro Regis Nieto, gerente do Setor de Efluentes Líquidos da Cetesb, aponta que o cátion cromo, especialmente o hexavalente, assim como o ânion cianeto, são os íons mais tóxicos encontrados em efluentes líquidos gerados nas empresas do setor de tratamento de superfície. “Diversas medidas de produção mais limpa têm sido implantadas nestas empresas. Entre elas destaca-se a substituição de compostos contendo estes íons por outros de menor toxicidade, bem como a eliminação de produtos a base de cianeto. Quando na presença destes íons nos efluentes, uma medida indispensável é a segregação destes despejos em duas linhas: despejos alcalinos contendo o ânion cianeto e despejos ácidos contendo cátion cromo hexavalente. Uma terceira linha costuma ser também segregada, contendo despejos ácidos (isentos de cromo hexavalente) e despejos alcalinos (isentos do ânion cianeto). Após as devidas segregações, os despejos alcalinos contendo cianeto são tratados em pH acima de 12 (utilizando-se solução de hidróxido de sódio), sendo o ânion cianeto oxidado a cianato ou, numa 2º fase, até gás carbônico e nitrogênio, com o auxílio de cloro normalmente na forma de hipoclorito de sódio. Usualmente, o excesso de cloro deve ser removido dosando-se solução de sulfito ácido de”. sódio ou metabissulfito de sódio. Em alguns casos pode ser utilizado na oxidação de cianeto o peróxido de hidrogênio”, ensina Nieto. Já os despejos ácidos contendo cromo hexavalente – ainda segundo o engenheiro da Cetesb – sofrem tratamento em pH próximo a 3,0 (utilizando-se a solução de ácidos clorídricos ou sulfúrico), sendo este cátion reduzido a trivalente na presença de metabissulfito de sódio ou sulfito ácido de sódio. Após os devidos pré-tratamentos, estes despejos são juntados à terceira linha e submetidos à separação de metais, que ocorre usualmente na forma de hidróxido metálicos, na faixa de pH adequada para a precipitação de cada metal. São utilizadas soluções de hidróxido de sódio, cal ou carbonato de sódio com esta finalidade, além de polieletrólito para auxiliar na decantação do lodo (hidróxidos metálicos) formados. O efluente final normalmente passa por um filtro de areia e, após medição de vazão, é encaminhado para uma rede pública coletora ou diretamente para um corpo receptor. “Em alguns casos, se submetido a processos avançados de tratamento, o efluente final pode ser reutilizado no processo produtivo, normalmente como água de lavagem após os banhos. O lodo é submetido a processos de desidratação, usualmente mecânicos (filtro-prensa e centrífuga, entre outros), sendo que o líquido drenado retorna para o tratamento”, diz o engenheiro. Atualmente, várias empresas realizam, além da segregação inicial conforme comentada, novas formas de segregação de despejos mais adequadas, separando-se em outras linhas, cada uma contendo um único metal como contaminante, o que propicia no tratamento a formação de lodos contendo hidróxido de um único metal. E, após reação de neutralização para obtenção do sulfato ou cloreto do metal, há possibilidade de utilização destes produtos nos próprios banhos eletrolíticos de revestimento.
Conscientização
Sobre se há conscientização, por parte destas empresas, da necessidade de instalar sistemas de tratamento de efluentes, Nieto entende que sim. De acordo com ele, as empresas são conscientes e realizam o devido tratamento, de forma que o efluente final atenda às condições e aos padrões de lançamento (emissão), tanto para envio em sistema público de esgotos quanto para lançamento direto em corpo hídrico, sendo que, neste caso, o atendimento também ocorre em relação às condições e aos padrões de qualidade. Tais padrões constam na legislação estadual (Regulamento da Lei 997, de 31.05.76, aprovado pelo Decreto 8468, de 08.09.76) e federal (Resolução CONAMA nº 357, de 17.03.05). Em caso de lançamento de efluentes em corpos hídricos receptores que têm como um de seus usos a preservação da via aquática (águas doces de classes 2 e 3), o atendimento também ocorre para a Resolução SMA nº 3, de 22.02.00, que estabelece o controle ecotoxicológico de efluentes líquidos na Estado de São Paulo.
Escolha do Sistema
Para o engenheiro da Cetesb, antes da escolha de um Sistema de Tratamento de Águas Residuárias – STAR é recomendável examinar detalhadamente o processo produtivo, principalmente no que se refere aos usos de água e gerações de efluentes, de forma a verificar a oportunidade de implantar medidas de redução do uso de água e de geração de efluentes, inclusive com menor toxicidade. Tais medidas incluem a substituição de produtos como os que apresentam na sua composição os íons cianeto e cromo hexavalente. Após a implantação das medidas de produção mais limpa deve ser realizada uma caracterização quantitativa e qualitativa de todos os efluentes gerados, baseada em amostragem representativa dos mesmos e na seqüência de escolher um sistema de tratamento que, sempre que possível, possibilite o reuso da água (usualmente do efluente final tratado) no próprio processo. “A implantação de um STAR é obrigatória para as empresas que realizam o tratamento de superfície para que atendam à legislação ambiental. Mas, é bom destacar, um STAR também propicia várias vantagens financeiras. Elas vão desde a redução do uso de água potável até a diminuição de uso de produtos no processo produtivo. Conforme o sistema adotado, caso proveja-se o reuso da água, pode ainda haver economia em relação a este consumo. Deve-se lembrar, também, que atuando sobre o processo de modo a reduzir a geração de efluentes reduzem-se, também, os custos de tratamento e gestão do lodo”, finaliza Nieto.
ETE por Processo Descontínuo na Metalúrgica CARTEC
A Tecitec forneceu, para a Metalúrgica Cartec, uma ETE – Estação de Tratamento de Efluentes que funciona por processo descontínuo, em bateladas. Esta ETE foi dimensionada para tratar 3 tipos de efluentes, ácidos e alcalinos, gerando, após processo físico-químico, dois tipos de resíduos, classificados como Classes I e II, ambos perigosos. Falando sobre o porquê de a ETE ter sido escolhida – e dos fatores que foram considerados -, Júlio César Valenzuela Gonzáles, assessor ambiental, e Renato Marne, especialista em Tecnologia Ambiental, ambos da Tecitec, dizem que, inicialmente, foi realizada uma reunião técnica para estabelecer os conceitos de tratabilidade das águas residuárias geradas e as possibilidades de pós-tratamento. “Com o desenvolvimento do projeto pela nossa engenharia apresentado ao cliente, aliado à garantia de enquadramento conforme a legislação ambiental vigente, possibilidade de reuso do efluente tratado, custo de aquisição e operacional adequados e tecnologias empregadas, obtivemos sucesso neste fornecimento, o qual acabou transformando-se em parceria cliente/fornecedor”, destaca Gonzáles. Marne, por sua vez, acrescenta que este fornecimento apresenta características especiais. “Trata-se de um conceito de estação totalmente compacta, confeccionada com materiais e componentes de alto padrão, com a maior parte dos equipamentos que estão em contato com os líquidos fabricados em polipropileno. O sistema de agitação para preparo dos reagentes, bem como a agitação nos reatores de tratamento, são realizados através de ar difuso. As bombas empregadas são do tipo pneumáticas de duplo diafragma de alta resistência a produtos corrosivos e abrasivos e manutenção através de kits de reparo. Foi empregado um separador coalescente de óleo, que garante a remoção necessária de óleos e graxas livres do efluente bruto, e a utilização de filtro-prensa semi-automático com placas em polipropileno, utilizado para desaguamento do lodo sedimentado. As plataformas de sustentação e operação são fabricadas em aço carbono e impermeabilizadas co fundo e pintura epóxi, dotadas de pisos anti-derrapante e em polipropileno. Uma característica fundamental é que as plataformas são fabricadas de acordo com a simetria dos equipamentos e a disponibilidade de espaço local no cliente.”
Implementação
Com relação aos problemas enfrentados na implementação, Gonzáles avalia, que de um modo geral, as dificuldades não apresentaram grandes complexidades, uma vez que houve o acompanhamento técnico desde o início do projeto. “Encontramos mais dificuldades nas pós-implementação, como duplicidade de funções dos colaboradores, o impacto inicial que o sistema acarreta junto aos envolvidos diretos, por acharem que era uma tecnologi muito complexa – ao final reconheceram que eram simples procedimentos operacionais. Este aspecto ocorre tanto para os responsáveis diretos, indiretos e, principalmente, para o pessoal da manutenção industrial. Resolvemos estes problemas orientando que duplicidade de trabalho pode ocorrer quando a função envolvida reforça o controle operacional da ETE. O importante é que os operadores estejam bem preparados para conciliar as atividades e atender ao sistema de fora eficaz, monitorando cada etapa dos processos de tratamento físico-químico. Existe a necessidade de despender cuidado especial quanto a operação e leitura da instrumentação, como os tempos de reação dos processos a serem realizados (oxidação, redução, neutralização, floculação, etc.). Aos colaboradores atualmente são fornecidos cursos de atualização, tanto dentro como fora da empresa. Todas as semanas são realizadas vistorias para verificar o preenchimento das tabelas de monitoração e acompanhamento dos processos e documentos existente. No fim do mês são elaborados gráficos estatísticos que demonstram com detalhe as quantidades dos efluentes tratados, consumo dos reagentes, geração de lodo e o custo por metro cúbico tratado e reutilizado”, completa.
Benefícios
O benefício de maior importância alcançado com estas ETEs é o cumprimento da lei, com o enquadramento do descarte dos efluentes no Artigo 19A do Decreto 8.468 da legislação do Estado de São Paulo. “Há um correto procedimento na disposição final dos resíduos gerados no tratamento, os quais são enviados para a reciclagem, convertendo metais pesados existentes no lodo desaguado em tintas. Posteriormente, as tintas são comercializadas pela empresa de reciclagem, mostrando que alguns resíduos gerados por empresas podem ser utilizados em outras aplicações. Todos os resíduos são acompanhados pelo CADRI (Certificado de Aprovação de Destinação Resíduos Industriais), fornecido pela CETESB. Outro benefício que gerou economia expressiva foi a redução do consumo de água potável no uso para descarga nos vasos sanitários, onde atualmente é usada água tratada”, diz por sua vez, Marne.
O especialista em tecnologia ambiental finaliza informando que ainda vai ser feito algum complemento na ETE. Segundo ele, serão implementados filtros de polimento dotados de leitos filtrantes contendo zeólita e carvão ativo. No primeiro serão adsorvidos os resíduos sólidos, com a redução acentuada dos metais pesados remanescentes ao tratamento. Já no filtro de carvão ativo serão reduzidos os odores, a coloração e matéria orgânica.
Fonte: Revista Tratamento de Efluentes, Ano XXVII, nº 151 – Setembro/Outubro – 2008 – pág 66