Sistemas de Filtração: Filtro Prensa vs Leito de Secagem
Uma comparação entre filtro prensa e leito de secagem
O momento de definir um projeto de uma ETE (estação de tratamento de efluentes) é bastante conflitante para o empresário pois o mesmo recebe informações diversas sobre o tema, na maioria das vezes sem nenhum embasamento técnico – econômico e por ser um investimento improdutivo, geralmente a decisão é feita pelo processo com menor custo inicial. Neste trabalho procuramos comparar dois processos de filtração dentre os existentes, o leito de secagem e o filtro prensa.
As perguntas levantadas foram:
- como cada processo opera?
- quais os principais problemas encontrados em cada processo?
- quais as características de cada processos?
- quais os custos envolvidos em cada processo?
- qual a geração de lodo de cada processo?
Conceitos
A filtração é o processo de separação mecânica do sólido suspenso e o líquido existente com auxílio de um material poroso. O material a ser filtrado é chamado suspensão, o líquido que passa pelo meio filtrante (areia, tecido, etc.) é chamado de filtrado e o material sólido remanescente no meio é chamado de resíduo ou torta.
A filtração é utilizada para desidratar o lodo, isto é, reduzir a umidade final do lodo visando os seguintes objetivos:
· facilitar o manuseio (coleta e tamboramento) do lodo
· tornar o manuseio mais seguro
· reduzir o volume de lodo gerado
· reduzir o custo de transporte e disposição final do lodo
A torta remanescente no meio filtrante varia em volume de acordo com o processo de filtração utilizado.
LEITO DE SECAGEM
É um dos processos de desidratação de lodo mais antigos que se conhece, a redução da umidade acontece naturalmente através de drenagem e evaporação do líquido. Geralmente é utilizado em indústrias pequenas e médias com grande disponibilidade de área de terreno e que geram pouco lodo no processo de tratamento. Seu custo de implantação é baixo.
Os leitos de secagem são tanques construídos em alvenaria ou concreto com fundo inclinado, direcionando os líquidos filtrados para uma rede de drenagem. Sobre o fundo, é construído um filtro em geral de areia e brita, o qual são colocados tijolos rejuntados com areia grossa o que permitirá a retirada do lodo filtrado sem danificar a camada filtrante.
A drenagem dos líquidos é realizada pelo fundo dos tanques, sendo captados e enviados novamente à Estação de Tratamento de Efluentes. É necessário uma boa ventilação para controlar a umidade e otimizar a taxa de vaporização e cobertura com telhas transparentes de fibra de vidro, para impedir a precipitação pluviométrica sobre os leitos e não retardar o tempo de secagem previsto.
A camada de lodo no leito de secagem deve ser entre 25 a 30 cm, lâminas mais espessas dificultam a liberação de umidade para a atmosfera, em conseqüência apenas a parcela superior da camada estará convenientemente desidratada. De modo geral, e em condições favoráveis (temperatura e vento, após 20 a 40 dias pode-se obter um teor de umidade de cerca de 75%, porém geralmente os resultados encontrados mostram um lodo com teor de umidade superior a 85% o que dificulta o manuseio. Geralmente é necessário a utilização de mais de um leito para permitir rotatividade na desidratação.
Lodos contendo óleos e graxas obstruem os poros dos leitos rapidamente e com isso retardam ainda mais a drenagem e desidratação.
Após a desidratação o lodo é coletado com uma pá e armazenado em sacos plásticos dentro de tambores. Deve-se então proceder a limpeza do leito de secagem removendo os fragmentos de lodo seco e vegetação germinadas e desenvolvidas nas juntas, recompor e nivelar os tijolos e areia, e após a limpeza deve-se manter o leito 3 dias sem utilização.
PRINCIPAIS PROBLEMAS
A demora da retirada de lodo em virtude de chuvas gera graves transtornos às estações impedindo descartes normais de decantadores ou adensadores provocando a saída de efluente com arraste de sólidos. Isto ocorre quando a acumulação de lodo aumenta consideravelmente, diminuindo o tempo de retenção previsto no projeto.
Em função da alta carga orgânica geralmente há ocorrência de odores e atração de insetos e pequenos animais roedores que podem ser nocivos à saúde.
A curto prazo serão colocadas em prática regulamentações que taxarão resíduos estocados e não permissão de disposição ou coprocessamento o que aumentará ainda mais seu custo mensal.
FILTRO PRENSA
É o processo de desidratação do lodo mais utilizado pelas indústrias por ser um processo rápido tanto na manipulação quanto no armazenamento.
O filtro prensa é constituído por uma série de placas verticais quadradas côncavas, isto é mais espessas nas bordas do que na parte central, formando quando estão unidas um vazio (câmara) entre o qual é acumulado o lodo.
Sobre a superfície das placas são colocados os elementos filtrantes (tecidos, papéis etc) que reterão os sólidos,
A drenagem dos líquidos filtrados é feita através das ranhuras das placas.
Este sistema de filtração é feito por batelada, na qual primeiro as placas são comprimidas junto ao tecido filtrante por um pistão hidráulico, para depois o lodo ser bombeado a alta pressão forçando a passagem do líquido pelo meio filtrante, ficando os sólidos retidos nos espaços entre as placas. O líquido filtrado é direcionado às ranhuras das placas e através de dutos são conduzidos novamente à Estação de Tratamento Efluentes.
Durante o processo, o material particulado fica retido nas câmaras e o preenchimento das camadas faz com que a perda de carga seja alterada comprimindo e desidratando o sólido, esta condição aliada a redução da vazão do filtrado determinam o período do ciclo. Nesse instante a alimentação é interrompida e procede-se à secagem opcionalmente com o ar comprimido, dando início a descarga de tortas com teor de umidade de 35 a 60% de acordo com as características do lodo tratado.
Após a despressurização do filtro e secagem da torta, as placas são separadas manual ou automaticamente e por gravidade as tortas caem através de um funil para os tambores, caçambas, big bags ou qualquer outro recipiente de coleta, para a armazenagem e posterior disposição final.
O ciclo de filtragem é realizado por bombeamento, pressurização, secagem com ar (opcional) comprimido e descarga, sendo que a desidratação o lodo é feita nas três primeiras etapas do ciclo. O tempo de filtração é variável dependendo de parâmetros de:
- granulometria dos sólidos
- porcentagem de sólidos
- temperatura do lodo
- tipo de floculante / redutor de ph utilizado
PRINCIPAIS PROBLEMAS
Este processo só pode ser utilizado em operações por bateladas.
Aspecto técnico-econômico
QUADRO COMPARATIVO
Leito de secagem | Filtro prensa | |
---|---|---|
Contaminação E Decomposição | Está sujeito | Não está sujeito |
Geração de lodo* | Aprox. 900 g água/kg torta | Aprox. 600 g água/kg torta |
Tempo desidratação | 20 a 40 dias | 60 minutos |
Ciclos de filtragem | Indefinido | Bombeamento, pressurização, secagem e descarga |
Área para instalação | Grande | Pequena |
Cobertura | Transparente | Telha comum |
Coleta e tamboramento | Demorado | Rápido |
Condições ambientais | Dependente | Não depende |
Quantidade de lodo | Pequena | Qualquer quantidade |
Custo inicial | Médio | Alto |
Flexibilidade | Não há | Grande (dependendo do número de placas) |
Área Filtrante | Pré estabelecida | Facilmente ampliável |
Manutenção | Simples mas demorada | Simples e rápida |
Antes de definir qual o projeto ideal para a estação de tratamento deve-se avaliar a quantidade de resíduo gerado em cada processo, os custos com o investimento e os custos operacionais incidentes sobre cada tipo de filtração. O investimento inicial para a aquisição de um filtro prensa geralmente é maior que a construção de um leito de secagem enquanto os custos operacionais do filtro são significativamente menores que do leito de secagem.
Os custos envolvidos para a construção de um leito de secagem são: mão de obra, areia, aço para estrutura, cimento, cal, blocos e impermeabilizante para a caixa de alvenaria. Telha transparente e material para a cobertura e estrutura, areia e brita para a drenagem e tijolos e elemento filtrante para a separação. O tamanho do leito de secagem depende da quantidade de lodo gerado e da umidade que se deseja retirar do lodo. Quanto maior a quantidade de lodo gerado maior será o custo da construção, porém menor o custo por kg filtrado. Em caso de aumento na geração de lodo, é necessário a construção de novos leitos.
Assim como no leito de secagem, o tamanho e o valor do filtro prensa são maiores quanto maior for o volume de lodo gerado, porém não na mesmo proporção e menor é o custo por kg filtrado. Assim um pequeno aumento no custo do filtro equivale a um grande aumento no volume a ser filtrado.
Os custos operacionais envolvidos nos processos de filtração geralmente são a troca do meio filtrante, mão de obra do operador, destinação/armazenamento do lodo. No exemplo abaixo foram levantados dados para tratamento de 9000 L/dia resultando em 1800 L/decantados com 5% de sólidos igual a 90 kg/dia de sólidos secos.
Leito de secagem | Filtro prensa | |
---|---|---|
Efluente | 90kg/sólidos = 225 L de torta | 90kg/sólidos = 225 L de torta |
Umidade da Torta | Aprox. 85% | Aprox. 60% |
Ciclos | 1 ciclo / 15 dias | 3 ciclos/dia - 75 L/ciclo |
Área utilizada | 108 m2 | 1,38 m2 |
MO, armazenamento e destinação para | 18 ton/mês | 6,75 ton/mês |
Contrução / Equipamento necessário | Construção de 15 leitos de 7,2 x 1 x 0,95 m | 1 filtro prensa 400x400 com 31 placas |